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Quando paro para pensar em ti lembro-me sempre daquele dia, daquela ecografia, da má notícia, do susto, da solidão naquela sala que me pareceu enorme, do medo de te perder, do alívio de te ter finalmente nos braços e dos dias difíceis que tivemos até aos teus 18 meses. Tudo parecia tão improvável…

E depois fazes 6, senhora de ti. Refilona, dona das tuas palavras, rezingona mesmo. Mas doce como só tu sabes ser. Engraçada e brincalhona, usas as palavras nos teus jogos, inventas novas, dás-lhes outro sentido sem teres medo delas.

Foi um ano de mudanças que aceitaste com muita coragem. Expliquei-te que não faz mal ter medo (eu nunca pude ter medo, sabes?), que é normal termos medo das coisas que não conhecemos e que não sabemos como são.

Caiu-te um dente e foi o caos. Nem fada, nem prenda, nem coisa nenhuma. Estavas inconsolável. Não sei o que pensaste mas eu pensei que era o fim. Quando os dentes começam a cair é altura de reconhecermos que os filhos estão mesmo a crescer e não há como parar. É horrível. Mas tu podias chorar, eu não. Foi o único. Tens mais dois ou três dentes a abanar, que hão-de cair mas há de ser de tédio, porque mal lhes tocas ou deixas tocar.

Deixaste a tua escola de bebé e foste para a escola das letras, levaste só dois amigos. Ia-mos as duas com o coração nas mãos, mas seguraste as lágrimas com a tua coragem de leão, e eu não te quis deixar ficar mal e por isso acabei com a garganta cheia de nós de tantas lágrimas que engoli. Sabes, o coração da mãe não está nunca preparado para isto, mas faz parte e tem mesmo de ser. Mesmo com medo.

És responsável com os teus trabalhos de casa embora nem sempre os faças com grande vontade.

Continuas a ser a irmã do meio, e ganhas muito com isso. Às vezes brincas com a mais velha, às vezes com a mais nova. Tens o melhor dos dois mundos. Naturalmente a gestão de conflitos não é o teu forte, e se a Sofia te bate tu respondes, o que nos enlouquece.

Continuas a ter aquela relação com a comida e as nossas refeições são marcadas por ti. É raro o dia, e a refeição, em que não temos de nos chatear contigo. Já é a tua imagem de marca.

Quem diria, Teté Jubita, que mesmo sem sopa havias de crescer tanto!

Continuas mais reservada do que as tuas irmãs. Ganhas pelo que observas e nada te escapa. Tens o teu ritmo e respeitá-lo é para nós fundamental.

És preguiçosa no sentido de que não gostas de fazer coisas que dão muito trabalho. Nunca pintas a cara em festas porque dá muito trabalho a limpar, não te aventuras em projetos e grandes coisas porque dá muito trabalho, mas em compensação fazes a tua cama quase todos os dias sem ser preciso dizer nada. E numa casa onde não fazer a cama é principio, deixas-me muitas vezes envergonhada e a pensar que deves ter herdado os genes da tua avó bisa, ou isso ou é mais do Karma para me perseguir!

Estás na fase da Patrulha Pata e a tua sorte é que são bem menos irritantes do que as Violetas e afins com que a Mafalda delira.

Não és nada medricas com os bichos mas este ano desenvolveste uma obsessão com as alforrecas que me tirou do sério. Em contrapartida és a companhia ideal para passear na praia e apanhar conchas: nunca te cansas de andar!

Foi um ano de muitas mudanças para ti e para mim mas é bom ver-te a voar!

A mais um ano de conquistas!

Playmobil – Dos 80’s ao século XXI

Os Playmobil sempre foram dos meus brinquedos favoritos e talvez por isso guardei os que tive, para os poder partilhar mais tarde com os meus filhos.

Por sorte a Teresa adora este tipo de brinquedos e constrói imensas brincadeiras à volta deles. Já se sabe que seja nos anos ou no Natal, há sempre uma caixinha de Playmobil para ela. Ela adora e eu também.

Há uns meses atrás os meus pais trouxeram os meus caixotes dos brinquedos, e claro, os meus velhinhos Playmobil!

Há que dizer que os Playmobil envelheceram bem, e felizmente evoluíram ainda melhor. Ao contrário de outros bonecos que, quanto a mim, perderam a identidade tendo mantido o mesmo nome. Tanto que dos anos 80 ao século XXI a viagem parece ter sido curta. Ora vê:

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Consegues ver as diferenças?

São mesmo muito poucas e tirando os novos penteados e o direito a roupas todas catitas, em oposição a calças e mangas brancas com camisolas e vestidos de outra cor, e a sapatos, inclusivamente chinelos de calçar e descalçar, quase nem se dá por ela!

Também tem linhas mais viradas para meninas com fadas, casinhas e famílias e outros cenários mais ligeiros. Mas como eu não gosto de as condicionar já lhe disse que não faz mal ela gostar dos outros também. Isto porque se forem coisas de Policia, Piratas, Bombeiros e afins ela associa logo a brinquedos de meninos e passa ao lado!

É um verdadeiro prazer para ela e para mim. E começa a ser um vicio só para mim! Até porque a Playmobil tem coisas de coleccionador que são de chorar!

E tu? Guardaste os teus tesourinhos para partilhares com a tua pequenada?

5

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Chegaste aos 5! Este ano foi um ano de grandes mudanças para ti e de um momento para o outro cresceste muito!

Ficaste muito mais extrovertida e conversadora e com isso, a tua abordagem à escola mudou. Estás feliz e integrada. A escola deixou de ser um castigo e nunca mais te ouvi dizer que não queres ir à escola. Mas se houver uma oportunidade para ficares em casa não hesitas e estar em casa continua a ser a tua praia. Entre brincar e trabalhar a tua escolha recai sempre em brincar.

Gostas dos teus brinquedos e para mim é um prazer ver-te brincar com eles, já que a tua irmã mais velha quase nunca se entretém com eles. Tu sabes brincar. Tens uma criatividade sem limites e os teus brinquedos estão sempre a ser ou a fazer qualquer coisa. De tal forma que és territorial. Quando constróis o teu universo de legos, as tuas personagens estão lá a fazer qualquer coisa e mesmo que suspendas a brincadeira, na tua cabeça eles continuam lá, e por isso não admites que mais ninguém brinque com o que puseste de parte, ou que arrume as tuas construções e as desmanche no caixote. É como se pusesses aquela brincadeira em suspenso mas ela continuasse a correr dentro de ti, não desligas totalmente disso. E isso faz com que sejas conflituosa, especialmente com a Sofia, que se vai aproximando de ti para brincar.

Este ano foi o ano em que aprendeste a gostar de pintar e de desenhar, e és muito boa nisso. É claro que a tua mão não acompanha a tua imaginação, mas tens o traço certinho e pintas tudo dentro das linhas.

Também gostas de trabalhos manuais mas parece-me que tens bem definido os teus limites e as tuas capacidades e por isso há coisas para as quais ainda não te inclinas. Às vezes fico na dúvida se é falta de empenho ou noção do esforço, mas lá chegaremos.

Continuas a ser muito doce e muito melada. Em ti há sempre espaço para beijinhos e abracinhos, e talvez por isso não tens grandes aspirações a ser independente. Gostas de ter ajuda para comer, o que ficou redondamente proibido agora que tens 5, gostas de ter ajuda para tomar banho, para vestir, para pentear…

Mas já vais sendo uma grande ajuda, já tens as tuas tarefas e já dás o teu contributo para a nossa comunidade e de um modo geral, és muito voluntariosa ao fazê-lo.

Continuas a gostar de correr e nisso só me fazes lembrar o Forest Gump, muitas vezes eu e o teu pai rimos e dizemos “Run, Forest, run…!”. Também gostas de andar de bicicleta e como és pouco aventureira tens menos medo! E a trotinete que te deram nos anos faz magia, e não há nada que pague ouvir-te dizer: “O” trotinete!

Estás mais solta e nessa tua criatividade toda és meio palerminha: brincas com as palavras, misturas as silabas dizes coisas sem sentido, inventas histórias do arco da velha e ris-te muito! E és contagiante.

És a nossa luzinha! Parabéns por este ano de conquistas e que venha o próximo!

E se hà pouco mais destes 5 anos o meu coração era do tamanho de uma ervilha com todo o medo de não te ter, agora é do tamanho do mundo com o tanto que me ensinas a gostar!

4 anos de Teresa

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Hoje fazes 4 anos mas querias muito fazer já 5. Acho que é por estares numa sala com crianças de 4 e 5 anos e tu seres a segunda mais nova. Por alguma razão o 4 não te diz nada. Eu também tive anos assim, valia mais passa-los à frente, julgava eu, mas aprendi muita coisa importante nesses (e em todos os outros) anos.

A nossa relação foi sempre muito intensa, não quer isto dizer que goste mais de ti do que das tuas irmãs, ou que sejas mais especial, mas tens esse teu jeito único de ser e termos começado a nossa relação no fio da navalha só ajudou. Das 3 filhas que tenho foste a única que resultou de uma decisão prévia e por isso eu e o teu pai já te imaginávamos muito antes de te termos feito, ter passado metade da gravidez em risco de te perder pôs muita coisa em perspectiva. E se calhar é por isso que das 3 és a mais dependente de mim.

Continuas a ser terrível para comer, a sopa continua a ser para ti uma forma de tortura e ver-te comer sopa começa a sê-lo também para mim. As tuas expressões de desagrado são genuínas e isso fez-te ganhar o direito de comeres só meia concha de sopa, mas só eu é que o sei, a bem do equilíbrio familiar! Não gostas de quase nada e tenho esta teoria de que escolhes os alimentos pela cor, sendo que o branco é a tua cor preferida: gostas de arroz e massa, iogurtes, maçãs, pêras e bananas, pão e manteiga, queijo. Abres uma excepção para o chocolate mas não gostas de chocapic, nem de bolos tenham ou não chocolate. Gostas de algumas bolachas. Não gostas de rebuçados, nem gomas nem mais nenhum doce. Toleras as estrelitas e agora, nesta escola, aprendeste a beber leite, o que fazes só porque sim e porque tem de ser. Em casa continuas a não querer beber. Mas depois gostas de brócolos e de iscas, pastéis de bacalhau, croquetes, pizza, salsichas e ovos mexidos. Continuas sistematicamente a vomitar quando comes polvo ou bolachas oreo e se formos andar de carro não te podemos deixar comer queijo e iogurte antes, senão… Mas raramente adoeces o que me deixa bastante mais descansada.

Gostas de brinquedos pequenos, com peças pequenas. Tens uma capacidade fantástica de imaginar situações e contextos para as tuas brincadeiras e ver-te brincar é para mim um prazer. Desenhas e pintas com moderação e alternas facilmente as tuas brincadeiras. Na verdade és tu que dás uso aos brinquedos da casa! E os carros continuam a estar nas tuas preferências.

Adoras animais e ainda não encontrei um que te fizesse ter medo. Até mesmo o sapo que nos apareceu no quintal mereceu o teu afecto e foi difícil convencer-te que não podíamos deixá-lo no lago da tartaruga. As tuas gatas são os teus amores e elas sentem isso porque se deixam andar ao teu colo sem problemas e até ronronam.

És muito tímida e envergonhada. Não socializas com o mesmo à vontade que a Mafalda e isso obriga-nos a respeitar o teu ritmo. Já estivemos em festas de anos onde não saíste do meu colo e, mesmo com os teus primos, quando a confusão é muita, é difícil convencer-te a ir brincar. Mas és pouco conflituosa nas brincadeiras e consegues facilmente gerir os conflitos sem teres que, sistematicamente, abdicar da tua vontade própria. Do outro lado da moeda és traquinas e muito divertida, dizes coisas palermas e brincas com as palavras.

Este ano passaste a fase dos Caricas e muitas vezes ao cantares uma das músicas, a tua dificuldade em pronunciares os R’s e os LH’s faziam com que a palavra colherão se transformasse num enorme palavrão, ao qual me foi sempre preciso um esforço hercúleo para não me rir! Continuas a ter um ouvido bestial para a musica e queres muito uma viola cor de rosa e da Minnie.

Tens um riso dourado e contagiante por isso muitas vezes provoco-te só para te ouvir rir. É um vicio que tenho!

És perfeitamente segura de ti, do que gostas e do que não gostas, do que queres e do que não queres e não te deixas influenciar por nada nem por ninguém. Pode até ser muito giro mas se entendes que não é para ti, não há quem te convença!

Esse teu jeito meigo já roubou um coração e o Carlinhos jura que vai casar contigo! No outro dia vieste a Lisboa comigo, e por várias vezes as pessoas se meteram contigo nos transportes. Há algo em ti menina…

Tens uma capacidade fantástica de te expressares, e mesmo antes de fazeres os 4 anos já sabias explicar porque é que estavas zangada, ou triste ou contente. Verbalizas as coisas com uma facilidade incrível para a idade que tens.

Mas és temperamental, e estás agora mais birrenta do que há uns meses atrás. Mas já não dormires na escola contribui muito para este teu humor rabugento. Às vezes entras num mundo de fantasia: tem dias em que és um pinguim, outras uma tartaruga e mais recentemente um cavalo (para seres como os Ponys), mas a culpa também é minha porque fui eu que te comecei a chamar tartaruga enquanto te ensinava a nadar.

E és doce e meiga, não te deitas sem um beijinho e sem um abracinho. E às vezes estás deitada e és capaz de sair da cama e vir ter comigo só para me dares outro beijinho e outro abracinho, e lá voltas para a cama sem problemas e de coração cheio. E até os teus brinquedos, quer sejam cães, gatos, barriguitas ou pinypons têm de me dar beijinhos, só dispensas os carros dessa formalidade porque entendes, e muito bem, que os carros são incapazes de dar beijinhos!

Continuas a ter uma grande cumplicidade com a Mafalda e alternas entre ser extremamente cuidadosa com a Sofia e entrar em conflito directo com ela por causa dos brinquedos. Partilhar os brinquedos com a Mafalda foi sempre uma condição implícita na tua existência e até há bem pouco tempo não era preciso partilhar nada com a Sofia. Mas vais lá chegar até porque adoras que ela se ria para ti e adoras ter companhia para brincar.

E por tudo isto que és com os teus 4 anos, dás tanto, mas tanto sentido à minha vida que ser-me-ia impossível vivê-la sem ti.

Parabéns Tartaruga, venha mais um ano de descobertas e aprendizagens!

3 anos de Teresa

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Chegada aos 3 anos continuas a ser a caixinha de surpresas que sempre foste. É bom ver-te crescer e é bom aprender-te a cada dia em tu te conheces um bocadinho mais.

Foi um ano dificil para nós. E tenho para mim que contigo será sempre tudo diferente. Embora tenhas já vencido grande parte da tua relação com a comida continuas a ser muito seletiva. Ainda assim estás longe de ser o que já foste e por isso podemos respirar de alivio.

Este ano, de um momento para o outro e sem pré aviso ou explicação aparente rejeitaste a escola. Entraste numa fase de intorelância e deixaste-me com o coração nas mãos e do tamanho da cabeça de um alfinete. Foi horrivel. Mesmo. Foi tão mau que houve um dia em que não aguentei mais, em que saí da tua escola depois de te lá deixar num estado de descontrolo total, depois de teres feito xi-xi em cima de mim enquanto estavas ao meu colo, depois de ter contrariado todos os meus instintos de mãe, e assim que cheguei ao carro também eu chorei. Descontrolada. E vim assim até casa, e liguei ao teu pai e disse-lhe que para mim não dava mais. Cumpri a minha promessa e para tua sorte as férias começaram pouco depois e pudeste ficar com os teus avós até Setembro.

E foi mesmo disso que precisaste. Deixaste de usar fralda e deixaste de usar chucha. E cresceste tanto! Mas menos do que querias, porque a dada altura nas férias achaste-te capaz de ir sozinha para a piscina, e foi dificil fazer-te perceber o que aconteceria se o fizesses. Ainda assim conquistaste o direito de flutuar sozinha, suspensa nas tuas braçadeiras, sem que ninguém te segurasse, e era preciso estar lá para ver o teu ar de satisfação e de confiança, como o de quem se prepara para tomar o mundo de um só assalto.

A tua arma é o teu sorriso. Estou certa que quando cresceres não te vai faltar quem por esse sorriso se encante. A mim conquistas-me todos os dias. Podia tentar por por palavras esse sorriso e a forma como tudo em ti se ilumina quando sorris mas não faria sentido senão para quem já o viu. Mas sempre foste assim, desde o primeiro sorriso, como se mil lâmpadas se acendessem à tua volta quando sorris.

Tens uma linguagem não verbal fascinante e divertida. Tenho dias em que quase acredito que és um cartoon saído diretamente do meu caldeirão das ideias. És tão engraçada que me deixas sem jeito quando é preciso ser firme ou ralhar.

Falas muito e ainda estás naquela fase de dizer coisas engraçadas como as pingas dos olhos quando te referes a lágrimas, entre outros disparates. Desenvolveste um ódio de estimação com as cinôias (cenouras) e por incrível que pareça gostas de iscas, de pasteis de bacalhau e de favas.

Por alguma razão que eu desconheço gostas de me ouvir cantar, e passamos horas a cantar sempre as mesmas músicas. Tens uma obsessão pela Minnie e pelo Mickey e continuas a gostar muito de brincar com carros.

Este é o teu primeiro ano no jardim de infância e a transição, ao contrário do que eu esperava, foi-te ligeira. Estás orgulhosa por seres crescida e por já não ires para a escola dos bebés. E tens lá o teu Fred. Agora todo o teu dia se resume ao Fred e devo dizer-te que conseguiste deixar o teu pai preocupado e ciumento logo ao fim de 3 anos. Parece-me que vamos ter três adolescências difíceis com um “pai tirano” por casa!

Gostas de fazer comigo uma brincadeira em que me pedes para sorrir enquanto finges que me tiras um retrato. Dizes-me sempre que fiquei linda. Um dia vais entender a importância destes momentos que guardarei para sempre em mim. É tão difícil lembrar de sorrir… Tudo sempre a correr, o tempo sempre a passar e tu, meu pinguim és a minha jóia que me lembra que viver também é sorrir.

Ganhaste mais uma irmã este ano e ao contrário do que toda a gente esperava reagiste bem. Tens muita curiosidade em relação a ela, mas como ela passa muito tempo a dormir quase que nem dás por ela. Gostas de a ver de olhos abertos e insistes em tapá-la como se fosse um dos teus bonecos. Gostas de lhe pegar ao colo, e por alguma razão que ainda não apanhei a tua voz acalma a Sofia e o teu choro deixa-a nervosa.

Já a Mafalda é a tua estrela polar. Se a Mafalda está de castigo tu ficas ao seu lado o tempo todo, mesmo se o castigo começou com qualquer discussão vossa que acabou mal. Basta que eu ralhe com uma das duas para vocês se unirem novamente. E é assim que deve ser. Gostas de dormir na cama dela, e a maior parte das vezes é lá que procuras aconchego quando acordas mais cedo que que precisas e ainda toda a gente dorme.

Este foi também o ano em que descobriste o aconchego dos avós e perdeste o medo de nos deixares. É bom ver-te a querer estar com eles. A querer dormir lá ao fim de semana. É bom ver-te a construir essa relação sólida e tão fundamental.

Não és uma criança tímida mas também não te dás de mão beijada. Há uma certa ponderação nas coisas que fazes, mesmo nos disparates. Não tens medo de animais nenhuns e por tua vontade deitavas a mão a tudo o que mexe. É talvez uma das poucas coisas em que sais a mim, em quase tudo o resto és o legado do teu pai.

Este ano és o meu pinguim, e demoramos alguns meses até decidirmos que assim seria.

Largar a Chucha

Esta é a história de uma criança, perfeitamente normal na sua forma única de ser atípica, que se esqueceu e da sua mãe, cuja normalidade é questionável, que desse esquecimento se aproveitou.

Ora, esta criança tinha, à data dos acontecimentos, 2 anos 9 meses e meia dúzia (mal contada) de dias. A idade da mãe não é relevante para a história.

Chegado o Verão e a época de veranear por esses areais fora, a criança foi sendo convencida que a sua amiga inseparável, aquela com quem partilhava os dias de manhã à noite numa relação de intimidade inquebrável, não era afinal a metade perfeita.

Passo a explicar. É que esta amiga não gostava nada de praia. Era muito medrosa com a água, quer fosse da piscina ou do mar e abominava areia, é que nem podia sentir um grãozinho que fosse. E também não gostava de parques infantis nem de andar ao sol. De um dia para o outro o único interesse que esta amiga parecia ter era dormir, de noite ou de dia, coisa que a criança estava pouco interessada em fazer.

Depois a criança foi veranear com os avós, primeiro com uns, depois com outros, e novamente com os primeiros, porque como se sabe os avós têm aquele doce e desregrado mimo que os pais, precisamente por serem pais, não têm.

Quando regressou a casa tinha mais uma irmã, bebé, mesmo bebé, tão bebé que todo o conceito de bebé mudou na sua cabeça de criança.

Ora a mãe, dividida em três e um quarto, foi gerindo o tempo e o espaço de cada cria e foi com muita alegria que assistiu a esta criança distanciar-se do paradigma do “eu quero ser bebé”. A criança mudou, evoluir, cresceu.

E pois que há uma noite em que já depois das crias estarem deitadas a mãe repara que a criança e a sua amiga (antes) inseparável já não estão juntas. A mãe, sendo a mãe que é e antevendo uma crise de saudadite aguda às 3 da manhã, aconchega a amiga (antes) inseparável (inutilmente) debaixo da almofada da criança.

De manhã a criança e a amiga não são vistas juntas, facto que levanta alguma suspeita a esta mãe tão atenta.

Na noite seguinte, a mãe de orelha à coca, que isto de ser mãe tem destas coisas, e para quem é mãe ou bom entendedor apenas estas palavras bastam, permanece alerta para este separatismo tão atípico nesta fase. E já depois desta cria estar deitada ouve-se ecoar no silencio da casa a sua voz chamando a sua mãe.

Pensamento obvio assola a mente da mãe: a criança lembrou-se! Pois que vai a mãe, toda ela vestida de desentendida, ver se a coisa cola assim ou se é preciso mais qualquer coisa, e quando chega à beira da sua cria é surpreendida com a frase: falta a minha água! Não posso dormir sem a minha água!

Ah! Santa filha se o que te falta é a àgua, pois toma lá a tua àgua!

E vá que a criança não se lembrou mais da sua amiga e está bom de ver que a sua mãe disso se aproveitou e não a voltou a lembrar.

E foi mais ou menos assim que a Teresa, quase de um dia para o outro, se esqueceu que usava chucha. Sem sofrimento, sem birras e sem trauma. A chucha ainda foi na mochila para a escola nos primeiros dias, mas só para ela me dizer, como quem está profundamente ofendida, que já é crescida e não usa chucha.

E foi mesmo assim que eu, mãe oportunista de todas as oportunidades, me aproveitei do seu esquecimento para lhe tirar a chucha.

Duas já estão, à data a que escrevo este post fica a faltar uma!

Regresso às aulas

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Hoje começa uma nova fase. Para elas enquanto seres individuais que são, para nós enquanto pais, e para a família que em conjunto formamos.

A escola é a mesma mas dentro da escola mudam de lugar. A Teresa deixa a cresce e passa para o jardim de infância, coisa que a deixa muito orgulhosa e que serviu de mote para outras grandes mudanças por aqui. Mas disso falarei num outro dia. Parece ir com mais vontade e com menos medos, agora que está na escola da mana. Até já diz que tem um amorzinho, coisa que eu achei deliciosa e que deixou o pai de nervos em franja!

A Mafalda começa o 1º ano, está cheia de vontade de estudar os livros, de fazer trabalhos de casa e de aprender coisas novas. Nem ela sabe como o mundo dela vai mudar assim que ela souber ler e escrever! Tem novos amigos e uma professora com quem criou logo empatia.

Nós somos orgulhosos pais destas meninas que crescem aos nossos olhos mais depressa do que cogumelos no mato. E eu tenho tido dificuldade em aceitar que já passaram 6 anos desde que me vi a braços com a primeira gravidez e que a minha primogénita começa agora o seu percurso escolar. Já não tem nada de pequenina esta minha filha.

Calha bem estar de licença de maternidade porque consigo acompanhar melhor esta transição da Mafalda na escola. Tenho mais tempo para organizar as rotinas de todos e consigo arranjar uma janela de tempo para estar com elas quando a escola acaba.

E por aí? Também se regressa à escola?

Projetos escolares

Este foi o primeiro ano em que tive de fazer qualquer coisa para a Teresa levar para a escola.

O que pediram aos pais foi que levassem uma meia dos filhos, decorada a rigor da efeméride e com uma mensagem de Natal.

Parece simples não parece? A verdade é que me levou dias a decidir o que fazer e depois ainda mais dias a executar, e só hoje a pequena Teresa levou, orgulhosamente tá claro, as suas meias para a escola.

Acho que o meu grande problema foi ter-me deparado com uma boa dezena de meias já prontas no dia seguinte, que me prenderam a inspiração nos símbolos do Natal. Pensei em anjos, árvores, estrelas, pais natal…

E depois resolvi simlificar e fazer não uma mas duas meias como simbolo da partilha, uni-las com uma fita como símbolo da familia, e salpicá-las de pequenas lantejoulas come se fossem elas próprias uma árvore de Natal. Os pompons de lado fazem-me sempre lembrar as meias de lã e por isso foram elemento obrigatório.

Quem diria que um projeto tão simples poderia ser tão complicado! Mas fiquei feliz com o resultado, e ela também.

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2 Anos

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Há dois anos mudaste a minha vida com esse teu jeito de ser. Chegaste sem aviso como quem responde a um desejo soprado e foi essa a primeira vez que “disseste” faço sim, mas à minha maneira! Quando pensei que te fazia já tu estavas em mim, e eu preferi assim. Gosto de recordar-te como a doce surpresa que sempre foste.

Contudo, pouco depois de te saber em mim, e quando já tinha o meu coração de mãe preparado para boas noticias às 12 semanas (às 10 semanas estavas linda e cheia de força) fomos todos surpreendidos por uma má surpresa que te podia ter levado de nós. O medo de te perder fez com que mentalmente me fosse preparando para o pior e isso fez-me perder a capacidade de me ligar a ti. Talvez por isso tenhas desenvolvido essa capacidade tão tua de me mostrares o quão gostas de mim e o quão importante sou para ti. Nunca ninguém me conquistou tantas vezes em tão pouco tempo e tu consegues fazê-lo todos os dias.

E novamente às 35 semanas uma ameaça de parto e o meu coração a ficar pequenino a cada dia que passava. Quando chegamos às 37 semanas suspirei de alívio e tu também o deves ter feito porque decidiste ficar mais 2 semanas e assim nascer no fim do tempo. O teu parto foi lindo e poder ter cortado o teu cordão umbilical foi mágico. Bastou olhar para ti, sentir o teu calor e o teu cheiro para estar para sempre presa a ti.

Tal como a tua irmã não foste um bebé fácil. Nos primeiros meses as cólicas desesperavam-nos a todos, aprenderes a comer for um desafio maior do que qualquer outro e vencer esse teu mecanismo de regorgitação da comida quase nos levou ao desespero. Com 18 meses pesavas 9 kg, o mesmo que a tua irmã com 9 meses.

Quando foste para a escola aprendeste a fazer como os outros meninos e por lá ninguém se queixa de ti, embora em casa continues a ser dificil com a sopa e com a fruta.

Mas não é isto que guardo de ti. O que guardo de ti é essa doçura que tens em ti, o jeito como sorris quando te encho de beijinhos, a forma como te agarras a mim com braços e pernas quando estás ao meu colo, como se nunca mais me fosses largar.

É essa tua vontade de superares os obstáculos e nunca te deixares ficar atrás, é a forma como observas o mundo à tua volta e bebes a informação para a transformares em aprendizagens, quase sem precisares de nós.

Foste cuidadosa na aprendizagem de andares e só quando te sentiste segura é que o fizeste, ainda assim com 1 ano já andavas, mas nunca gostaste de dar um passo maior que a tua perna. Já a fala surpreendeu-nos a todos porque com dois anos falas como se estivesses perto dos 3 e qualquer pessoa te entende. É claro que só falas connosco, com os teus avós e com os teus colegas da escola, porque é quem com te sentes mais confortável e provavelmente sem vergonha.

Acompanhas quase todas as brincadeiras da tua irmã e as poucas que não consegues acompanhar fazes questão de estar por perto na mesma. Adoras carrinhos e brincas com facilidade com os brinquedos da tua irmã, mesmo que supostamente não sejam para a tua idade.

Fazes as caretas mais engraçadas e doces que alguma vez vi e a tua linguagem corporal é tão intensa como a verbal. Sabes dizer não com todos os musculos do teu corpo e estás a chegar à fase das birras, o que significa que não queres ser contrariada nem por nada e tudo tem de ser à tua maneira. Com o tempo hás-de aprender a controlar os teus impulsos e isso não me preocupa.

O teu sorriso é ouro, ilumina-te de tal forma que é impossivel não te sorrir de volta.

És e serás sempre o meu bebé.

Nós na cozinha

Eu gosto do mês de Agosto. É provavelmente o meu mês preferido porque já fui de férias, já descontraí, já fui à praia e à piscina, já brinquei com as miúdas e matei as saudades todas. É claro que se pudesse continuar de férias continuava mas, como o trabalho não espera, o regresso é obrigatório e, podendo eu escolher, escolho trabalhar no mês de Agosto.

Lisboa está vazia de carros e trânsito e cheia de gente que fala outras línguas que não o português, por isso é como estar numa cidade diferente. Não preciso de andar em stress com as horas, chego sempre a tempo ao trabalho, tão a tempo que consigo sair mais cedo do que o normal e chegar a casa mais cedo, o que me dá muito mais tempo para estar com elas.

Ontem a Mafalda quis fazer pão, e pão foi o que nós fizemos!

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Tinha uns pacotes de mistura para pão de queijo, aparentemente um produto brasileiro, que me apresso a explicar que nos foi oferecido no supermercado, e assim que a Mafalda percebeu que aquilo servia para fazer pão não descansou enquanto não pôs, literalmente, as mãos na massa. Mais uma coisa em que sai a mim, adoro amassar massas, sejam elas de pão ou de bolachas.

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A Teresa não estava muito interessada até perceber que a tarefa ia demorar e que mais valia juntar-se a nós. Vai daí e foi para ao pé da irmã que lhe deu uma bolinha de massa para amassar. Claro está que a Teresa resolveu amassá-la com os dentes, mas também está bem!

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A cada dia que passa elas estão mais próximas uma da outra e é tão bom vê-las interagir uma com a outra. Agora estou a viver com a Teresa o que já vivi com a Mafalda, que é este deslumbre de poder fazer coisas com ela, de tê-la a participar em partes da minha rotina e não ser só eu a participar na rotina dela. Por outras palavras: é bom tê-la a fazer coisas de crescidos e não estar sempre eu a fazer coisas de bebés. Mas por outro lado sei que daqui por mais uns meses, quando ela perder o que ainda lhe resta de bebé, vou ficar com o meu coração pequenino de tanta saudade…

E é tão engraçado ver o quão diferentes elas são! A Teresa parece ser mais prática e descomplicada do que a Mafalda, mas é só um palpite meu baseado na forma como ela descomplica as palavras que não consegue dizer. Por exemplo, A Mafalda com a mesma idade que a Teresa tem agora dizia Cucuta quando se referia a uma tartaruga. Já a Teresa diz simplesmente Cuga. Como é de esperar a Teresa já fala muito mais do que a Mafalda falava com a mesma idade, mas também tem muito mais estímulo com a irmã e os primos.

É muito menos insegura do que a Mafalda, mas em compensação é mais carente de mimos e contacto físico e muito menos aventureira e destemida. É cautelosa e não faz nada sem pensar bem, nem mesmo provar um alimento novo. É preciso convencê-la bem convencida. Adora animais e desses nenhum lhe mete medo, já a Mafalda tem medo de tudo o que se mexa à volta dela.

Têm as duas pavor de àgua na cara e continua a ser um grande desafio lavar-lhes o cabelo e claro, são as duas doidas por chocolate, mas nisso têm bem a quem sair!