Esta é a história de uma criança, perfeitamente normal na sua forma única de ser atípica, que se esqueceu e da sua mãe, cuja normalidade é questionável, que desse esquecimento se aproveitou.
Ora, esta criança tinha, à data dos acontecimentos, 2 anos 9 meses e meia dúzia (mal contada) de dias. A idade da mãe não é relevante para a história.
Chegado o Verão e a época de veranear por esses areais fora, a criança foi sendo convencida que a sua amiga inseparável, aquela com quem partilhava os dias de manhã à noite numa relação de intimidade inquebrável, não era afinal a metade perfeita.
Passo a explicar. É que esta amiga não gostava nada de praia. Era muito medrosa com a água, quer fosse da piscina ou do mar e abominava areia, é que nem podia sentir um grãozinho que fosse. E também não gostava de parques infantis nem de andar ao sol. De um dia para o outro o único interesse que esta amiga parecia ter era dormir, de noite ou de dia, coisa que a criança estava pouco interessada em fazer.
Depois a criança foi veranear com os avós, primeiro com uns, depois com outros, e novamente com os primeiros, porque como se sabe os avós têm aquele doce e desregrado mimo que os pais, precisamente por serem pais, não têm.
Quando regressou a casa tinha mais uma irmã, bebé, mesmo bebé, tão bebé que todo o conceito de bebé mudou na sua cabeça de criança.
Ora a mãe, dividida em três e um quarto, foi gerindo o tempo e o espaço de cada cria e foi com muita alegria que assistiu a esta criança distanciar-se do paradigma do “eu quero ser bebé”. A criança mudou, evoluir, cresceu.
E pois que há uma noite em que já depois das crias estarem deitadas a mãe repara que a criança e a sua amiga (antes) inseparável já não estão juntas. A mãe, sendo a mãe que é e antevendo uma crise de saudadite aguda às 3 da manhã, aconchega a amiga (antes) inseparável (inutilmente) debaixo da almofada da criança.
De manhã a criança e a amiga não são vistas juntas, facto que levanta alguma suspeita a esta mãe tão atenta.
Na noite seguinte, a mãe de orelha à coca, que isto de ser mãe tem destas coisas, e para quem é mãe ou bom entendedor apenas estas palavras bastam, permanece alerta para este separatismo tão atípico nesta fase. E já depois desta cria estar deitada ouve-se ecoar no silencio da casa a sua voz chamando a sua mãe.
Pensamento obvio assola a mente da mãe: a criança lembrou-se! Pois que vai a mãe, toda ela vestida de desentendida, ver se a coisa cola assim ou se é preciso mais qualquer coisa, e quando chega à beira da sua cria é surpreendida com a frase: falta a minha água! Não posso dormir sem a minha água!
Ah! Santa filha se o que te falta é a àgua, pois toma lá a tua àgua!
E vá que a criança não se lembrou mais da sua amiga e está bom de ver que a sua mãe disso se aproveitou e não a voltou a lembrar.
E foi mais ou menos assim que a Teresa, quase de um dia para o outro, se esqueceu que usava chucha. Sem sofrimento, sem birras e sem trauma. A chucha ainda foi na mochila para a escola nos primeiros dias, mas só para ela me dizer, como quem está profundamente ofendida, que já é crescida e não usa chucha.
E foi mesmo assim que eu, mãe oportunista de todas as oportunidades, me aproveitei do seu esquecimento para lhe tirar a chucha.
Duas já estão, à data a que escrevo este post fica a faltar uma!