Disseram-me que devo fazer o luto.
Acho que nunca fui boa nisto e sempre acreditei que de uma forma ou de outra, o tempo trata disso, melhor ou pior. Mas como nunca me disseram que eu devia fazer luto, estou a dar o beneficio da dúvida, e se calhar é mesmo isso que eu preciso.
Nesta minha tentativa de fazer o luto, precisei de perceber o que é afinal isto do luto. Parece que se aplica também a outras perdas, que não só as perdas daqueles que nos são importantes.
A verdade, e se calhar é por isso que isto me é difícil e confuso, é que eu não perdi nada. Mas não tendo perdido nada tudo mudou. Ou está a mudar. Ou já mudou mas continua a mudar.
Neste processo o meu sonho morreu, deixei de acreditar, vi coisas que pensei que a história já tinha ensinado, e vi outras coisas que me chocaram para além do que as palavras podem expressar. E claro, perdi a vontade e a motivação para continuar neste caminho.
E diz que preciso fazer o luto de tudo isto.
Diz também que o luto tem 4 fases: a negação, a raiva, a depressão e a aceitação.
Acho que ainda estou na negação, porque tudo me parece demasiado surreal para ser verdadeiro e continuo à espera que alguém chegue e ponha cobro a isto. Mas sei que isso não vai acontecer, embora permaneça sempre essa esperança que tudo volte ao que era. Depressa se faz favor.
Raiva não senti nunca. Espanto, incredulidade e uma certa angústia associada sempre à sensação de impotência de não poder fazer nada. NADA.
A depressão chega mais logo, quando deixar este lugar para entrar noutro que me é estranho. Quando tiver que sorrir e segurar a compostura profissional em frente a pessoas que (ainda) não me são nada. Quando tiver de me forçar a empenhar-me na construção de relacionamentos que não me apetece construir. Quando finalmente pesar a distância destas outras pessoas que foram a minha família durante 6 anos. Quando o corpo se ressentir da distância cada vez maior. Quando tudo for novo e desconhecido. Aí sim, chega a depressão. Por agora só uma tristeza imensa que se esconde o melhor que se pode. Chorar é tão inútil.
E depois há-de ser tudo normal outra vez. As coisas redefinem-se e assentam, e eu adapto-me e evoluo e, com sorte aprendo mais qualquer coisa. Por essa altura creio ter chegado a aceitação.
Por agora é esta tristeza imensa, esta falta de vontade das horas que se seguem.
Mas é, para mim, hora de fechar esta porta, e isso é mais uma coisa que eu não posso mudar.
Desejem-me sorte.