Passaram 5 anos e só me ocorre o lugar comum do “passou tão depressa”. A verdade é que me parece que foi ainda ontem que me vi envolvida no turbilhão de emoções que foi descobrir que estavas em mim. Primeiro tive muito medo, depois senti-me muito feliz e à medida que o tempo foi passando e a tua chegada se aproximava, o medo veio novamente de mansinho.
E foi assim que de madrugada fomos para o hospital e pode parecer estúpido mas durante todo o tempo senti que me “seguravas a mão”, senti que me dizias que ia correr tudo bem, senti que me acalmavas. E vieste ao mundo sem dor e de olhos bem abertos olhaste para mim sem nunca desviares o olhar, fixaste-os em mim e naquele momento todo o meu mundo mudou. Não tenho ideia de te ter ouvido chorar mas sei que o fizeste, embora só durante o tempo de chegares até mim, depois ficámos as duas em silencio enquanto as nossas almas conversavam.
Foste sempre um bebé dificil, fizeste-me muitas vezes sentir à beira do colapso e com isso mostraste-me até onde pode ir o amor de mãe e mostraste-me que no fundo ser mãe é ser elástica, é aguentar ainda um bocadinho mais quando pensamos que já não conseguimos ir mais longe.
Depois passou e tornaste-te num dos bebés mais amorosos do mundo. Quando tinhas um ano e te ia adormecer abrias os braços e fazias questão que eu deitasse a minha cabeça no teu ombro, como se me abraçasses e me quisesses tu proteger do mundo.
És uma alma velha, tenho dito muitas vezes, e tens-me ensinado tanto ou mais a mim do que eu a ti.
És segura e determinada, és senhora de ti, sabes o que queres e quando queres. Ignoras muitas vezes o que te digo embora me faças o favor de aceder gentilmente quando te repreendo ou te digo para não fazeres qualquer coisa. Muitas vezes desespero com isso mas sei que é isso que te vai proteger e te vai ajudar a percorreres o teu caminho. Como pessoa gosto que sejas assim, como mãe é muitas vezes dificil.
Ainda assim não és nem nunca foste criança de birras, por isso quando és contrariada nas tuas vontades ficas um bocadinho amuada, mas nem sempre, e é coisa para passar tão depressa como chegou. Raramente choras, o que para mim é um mistério e uma desconfiança de que herdaste o meu orgulho, e igualmente um receio de que venhas a sofrer até aprenderes que às vezes tens de saber não ser orgulhosa. Não que goste de te ver chorar porque não gosto, mas porque quando vejo outras crianças com a tua idade percebo o quão diferente tu és neste aspeto.
Adoras pintar e desenhar e só à pouco tempo os teus desenhos evoluiram de riscos e rabiscos para coisas que já vamos percebendo o que são. Gostas de histórias e de fazer contas, mas não gostas de não saberes alguma coisa e quando te sentes insegura falta-te a preserverança de te tentares vencer, desanimas e desistes até voltares a encontrar vontade para prosseguires.
És vaidosa e continuas a gostar do faz de conta, mudas de roupa e queres pintar a cara, como se todos os dias pudessem ser carnaval.
Gostas do Tom & Jerry mais do que qualquer desenho animado, e a tua princesa preferida é a Cinderela. Tens pesadelos com os vilões dos filmes e por isso deixaste de ver a princesa e o sapo. Quando escolhes os filmes muitas vezes dizes que não queres ver este ou aquele porque depois sonhas com uma ou outra personagem, como o Gargamel dos Smurfs.
Estás desejosa que te comecem a cair os dentes, porquê não sei.
Tens uma relação fantástica com a tua irmã, és maternal e acho que muitas vezes aproveitas para brincares às mães com um bebé verdadeiro. Quando estão a comer e eu me levanto da mesa aproveitas a oportunidade para lhe dares uma colher de comer à boca e às vezes de manhã quando me levanto e vou ao vosso quarto vejo as duas na tua cama. És cuidadosa e calças a tua irmã quando ela se levanta porque sabes que nenhuma de vocês deve andar descalça. Tens a obcessão de pores a tua irmã no bacio, o que nos desespera às duas!
Claro que te desentendes com ela mas felizmente, grande parte do tempo, conseguem brincar as duas sem se chatearem e sem discutirem por causa dos brinquedos, embora às vezes se entusiasmem e as vossas correrias pela casa acabem com uma de vocês a chorar porque se aleijou. Mas faz tudo parte.
Continuas a ter um medo inexplicável de cães e descobriste que gostas de arroz doce, de o comer e de o fazer, por isso quase todas as semanas fazemos arroz doce para ti. Também gostas de me ajudar na cozinha e fazes bolachas quase sem ajuda. Gostas de fazer as bolachas para as ofereceres à tua educadora, o que eu acho fantástico.
Também tu és uma bolacha. És a minha bolachinha e fazes o meu mundo girar já hà 5 anos!