A saga do gato começou no ano passado. O que estava combinado com elas é que poderiam ter um gato assim que a Sofia fosse mais crescida e, se e só se, elas se portassem bem, que esta cláusula é obrigatória em todas as nossas combinações! Mesmo antes pensarmos em mudar de casa sabíamos que mais cedo ou mais tarde teríamos de arranjar espaço para um bicho.
Em casa dos meus pais nunca houve gatos nem cães, para grande desgosto meu. Houve peixes e pássaros, tartarugas e peixes, coelhos e ouriços caixeiros e algures no tempo tenho ideia que até uma rã houve. Mas nunca cães nem gatos.
Com a idade e a experiência de ser mãe e de estarmos todos encafuados num apartamento, com horas contadas para tudo, passei a perceber a reticência em relação aos cães. Nesta fase da minha vida não me vejo a acrescentar, à minha rotina, as horas do passeio do cão à rua, e as miúdas ainda são demasiado pequenas para o fazerem. Embora continue a adorar cães e a querer muito vir a ter um (ou muitos).
Mas os gatos são diferentes e mais autónomos no que respeita às suas necessidades e à higiene do nosso espaço, e por isso nesta fase são compatíveis com a nossa rotina. E de qualquer forma as miúdas queriam um gato.
Mudar de casa precipitou as coisas porque ficamos com mais espaço, o que nos permitiu criar um cantinho para o gato. E a Sofia cresceu e começou a andar. E havia um gatinho que precisava de lar. E tudo isto junto fez-nos aceitar o desafio.
Foi num Domingo que fui comprar as coisas para o gato, mesmo antes de o ir buscar, para fazer uma grande surpresa às miúdas, que voltavam para casa nessa tarde. Por haver escolha, eu escolhi uma fêmea e de pelo claro.
Quando me encontrei com a pessoa que estava a dar os gatos ela mostrou-me duas gatinhas e uma delas tinha um ar terrível, daqueles gatinhos do final da ninhada, mais pequenina e enfezada, com uma conjuntivite brutal nos dois olhos. Eu escolhi a que tinha um ar mais saudável.
Mas depois a pessoa insistiu para eu trazer as duas, que eram da mesma ninhada e que precisava mesmo de dar as gatas que tinha 14 gatos bebés para dar e se não encontrasse lar para todos tinha de os abater. Fiquei para morrer, a gata já parecia morta e, honestamente não sei se teria sobrevivido a mais uma semana.
Acabei por trazer as duas, pronta para o embate com o meu marido, na condição de lhe arranjar um lar. Mas quando cheguei ao pé dele o meu ar devia ser ainda mais desesperado do que o da gata porque, apesar de eu lhe ter dito que arranjava um outro lar para a gata, nunca, em momento algum, ele assumiu que ela não era também nossa.
E foi assim em vez de um gato adoptamos dois.
Tivemos, no entanto, o cuidado de adoptar gatos bebés, para facilitar a adaptação das miúdas às gatas e vice versa. E tanto umas como outras adaptaram-se perfeitamente.
E ter duas gatas tem revelado algumas vantagens em relação a uma só:
– as miúdas dividem as atenções pelas duas e não massacram só uma gata,
– as duas gatas brincam uma com a outra e não estragam (tanto) as nossas coisas
– não há crises de ciúmes porque há sempre mais uma gata para mimar, e sempre mais um colo para dar mimo às gatas
– as miúdas desenvolvem um sentido de responsabilidade maior porque são formalmente responsáveis pela higiene diária da caixa da areia, sob a nossa supervisão, especialmente no que respeita a lavar as mãos no fim. Também são responsáveis pela alimentação delas.
Até agora não houve nada que me tivesse feito questionar a decisão de ficar com as duas gatas. De tal forma que me parece ser até bastante funcional numa família com mais do que uma criança pequena.
A desvantagem óbvia é o encargo financeiro porque as despesas de alimentação são a dobrar e a conta do veterinário também. Em relação à areia para já é mudada uma vez por semana, mas é possível que quando as gatas forem adultas seja preciso mudar duas vezes por semana. E a outra desvantagem é que se torna mais difícil controlar o impulso de adoptar mais gatos, porque já venceste a barreira mental do “um só animal”, assim com dois dás por ti a pensar que se fossem 3 nem davas pela diferença e torna-se complicado controlar!
E se achas que os gatos são desprendidos deixa que te diga que são é mal entendidos. Os gatos têm vários períodos do dia em que querem festas e mimos, e é nessas alturas que devem ser acarinhados. Quando querem brincar e correr atrás de coisas não vais conseguir que fiquem ao pé de ti, nem sossegados, nem ao teu colo. Com os gatos é preciso perceber o que eles querem fazer e saber entender a sua linguagem. Se impões a tua vontade o mais certo é veres (e sentires) umas garras de fora!
As miúdas já aprenderam os ciclos das gatas e fazem gato sapato delas! E achas que as gatas se importam? Qual quê! As gatas ficam no quarto delas a vê-las brincar, brincam com as peças dos brinquedos delas, dormem nos carrinhos dos bebés de brincar e assistem metodicamente a todos os banhos delas! E andam ao colo, recebem beijinhos e ainda voltam para mais! E sempre que é hora da Sofia comer, sentam-se debaixo da cadeira dela porque sabem que vai começar a chover comida!
Tem sido uma simbiose muito interessante entre as miúdas e as gatas e acho que lhes tem feito muito bem, mesmo a nível da expressão dos afectos.
É claro que antes de decidir ter um gato em casa, toda a gente me contou as mais insólitas histórias de como de uma forma ou de outra o gato matou a criança, ou porque a mordeu, ou porque lhe espetou as unhas nos olhos, porque se deitou em cima da cara e a criança sufocou, ou porque os pelos ficaram alojados nos pulmões e a criança desenvolveu uma infecção respiratória e morreu. Mas isto são histórias.
Tudo o que é preciso é ensinar as crianças a conhecer os gatos (ou qualquer outro animal) perceber até onde podem brincar e aprender a linguagem do gato para que não haja mal entendidos, até porque os gatos não são nada dissimulados. Se eles não gostam fazem questão de te mostrar logo que não gostam!
E claro, como em tudo a higiene é fundamental! Areias limpas e mudadas com frequência, gatos livres de parasitas internos e externos, vacinas em dia, comida e água mudada com regularidade, nada de comerem restos perdidos da nossa comida! E para as crianças mãos sempre bem lavadas, especialmente depois de mexer na comida e no caixote das gatas e com maior empenho antes das refeições!
O resto é pura brincadeira!
E crescem tão depressa como as miúdas!