Vamos lá então ver como desenhar um modelo de costura, que seja teu, único e tal e qual como o imaginaste.
O primeiro passo é conceber uma ideia. Aqui convém desmistificar que as ideias têm sempre na base qualquer coisa que foi vista antes. Não há como dar a volta à coisa nem ter pretensões de inventar a roda. A isto chama-se inspiração. A forma como utilizam a inspiração e transformam uma ideia em realidade, com a vossa interpretação e com o vosso cunho é que torna um projeto original e diferente. A ideia inicial é depois multiplicada em pequenas outras ideias que a vossa mente criativa vai explorando, umas serão ideias viáveis e devem ser mantidas, outras serão ideias que dificultarão o processo ou não são facilmente realizáveis, e a estas devem dizer adeus sem culpa.
Muitas boas ideias têm na sua génese uma necessidade. Por exemplo, todos os anos gosto de fazer vestidos de verão para as miúdas e como gosto de variar as coisas que faço a minha necessidade é encontrar um vestido diferente que assente nos requisitos de ser: fácil de fazer, consumir poucos recursos (incluindo o tempo), ser diferente do que já fiz, e por vontade minha este ano não ser só de tecido.
Esta é a minha ideia tal como a formulo na minha cabeça. O próximo passo é por por escrito a ideia para que ela não me fuja e para que eu possa identificar as fragilidades que ela tem. Não é preciso ter grandes dotes para o desenho, eu não tenho, e mesmo que os meus desenhos pareçam desarticulados, a verdade é que os consigo ler e imaginar feitos e isto permite-me perceber os passos que vou ter de seguir.
Por por escrito uma ideia permite também idealizarem os melhores materiais a usar, permite acrescentarem detalhes ou pormenores que não sendo essenciais, tornam o vosso projeto único e diferente do resto. E claro, ajuda-vos a perceber que medidas vão precisar de considerar e que quantidade de materiais vão necessitar, o que é particularmente util com tecidos. Desenhar no papel ajuda também a perceber qual deverá ser o corte certo do modelo que querem fazer.
Voltando ao meu caso, o meu vestido para a “colecção primavera-verão 2013” é composto por uma parte de crochet e uma saia de pano. Desenhar a ideia ajudou-me a perceber que o mais simples seria considerar 3 blocos de crochet, cada um correspondente ao tamanho de cada medida do peito, como está no desenho. Ajudou-me também a perceber que bastaria um rectangulo de tecido para a saia e que o conjunto ganharia muito se em vez de uma bainha simples, o vestido fosse acabado com uma fita de viés.
O primeiro passo é simples: Conceber uma ideia e pô-la por escrito!
A seguir estamos em condições de começar os testes!
Testar uma ideia é um processo demorado e é preciso alguma dedicação e vontade de fazer as coisas acontecerem. Raramente uma ideia sai perfeita à primeira tentativa de materialização. Basta ver que, mesmo seguindo um modelo pré existente, é dificil concluir um projeto sem erros ou falhas, quanto mais se estivermos a conceber um projeto de raíz, sem medidas ou outras orientações que não as nossas.
Por isso testar uma ideia poderá implicar fazer 3 ou 4 tentativas, e nessas tentativas ir corrigindo os erros e alterando o modelo para o aproximar do resultado que pretendemos.
Para este vestido em concreto o passo inicial foi escolher um ponto de crochet para o peitilho do vestido.
Estes são os 3 pontos que considerei. O critério de decisão foi o mais fácil e rápido de fazer, o que não exigisse demasiada concentração e fosse fácil de fixar ao fim de meia dúzia de pontos. E claro, como a ideia era fazer um modelo, tinha de ser suficientemente fácil para ser explicado por poucas palavras e em algumas fotos. Testar os pontos obrigou também a testar vários tipos de linha para ver qual resultava melhor não só na estrurura do vestido como também no conforto da peça acabada.
Na verdade testar o ponto da primeira fotografia obrigou a três tentativas! Como já tinha feito o ponto da segunda foto no tamanho da Teresa, quis fazer este no tamanho da Mafalda para que cada uma ficasse com um vestido. Mas é como vos digo, testar um modelo é sobretudo tentativa e erro.
A primeira tentativa de fazer o peitilho do tamanho da Mafalda resultou numa primeira barra demasiado pequena. Por isso deixei-a de parte de recomecei outra, desta vez do tamanho certo. O peitilho do vestido da Mafalda ficou feito mas eu fiquei com uma barra de crochet que me deu outra ideia.
Decidi então usar a barra como remate do vestido, que claro, só serviria num vestido para a Teresa e por isso repeti o mesmo ponto para fazer um peitilho que servisse à Teresa.
Quando acabei a fase de testes tinha 4 vestidos feitos!
Com todos os pontos testados restou escolher um. Como é que é feita a escolha?
O meu ponto de partida são os três pontos de crochet que fazem 3 peitilhos diferentes. A ideia é escolher dos três o melhor.
Há que ter em conta o objetivo e os requisitos iniciais. No meu caso o objetivo é fazer um vestido fácil, rápido, com poucos recursos (incluindo o tempo), que resulte num vestido original e que possa ser facilmente explicado por palavras e com algumas fotos.
Começando pela primeira fotografia, o ponto não é dos mais fáceis de fazer, requer atenção e concentração que fogem da ideia inicial, é de difícil combinação com tecidos estampados. De todos os tecidos que tenho apenas os dois que usei nestes vestidos suportavam este ponto, pelo que seguir com esta ideia comprometeria o meu objetivo de ter um vestido bonito. Também não permite fazer as alças em crochet porque estas ficariam demasiado grandes para vestidos pequeninos se fossem feitas com este ponto, e combinações com outros pontos não resultavam. Embora a ideia de fazer as alças de tecido igual ao da saia resulte bem e o vestido ganhe graça por ser atado ao pescoço, a verdade é que estas alças dificultam em muito a execução fácil do vestido. São mais duas tiras de tecido para cortar, coser, virar e rematar. Por tudo isto este ponto não foi eleito.
O ponto da segunda fotografia é relativamente fácil mas requer um esforço de concentração que me pareceu maior do que o que procurava. Por ser um ponto muito pequenino parece que demora muito a aparecer feito e compromete a rapidez do projeto. As alças têm de ser feitas num ponto diferente o que obriga a explicações extra e a uma concentração adicional na altura de fazer as alças, é como começar um outro projeto.
O ponto da terceira fotografia é o ponto vencedor! É o mais fácil de fazer, é suficientemente rápido a produzir efeitos e é num instante que o trabalho aparece feito. É de fácil combinação com a maioria dos tecidos e as alças são a repetição do padrão simples o que permite continuar o trabalho sem ter de parar para aprender um novo ponto.
A ideia está finalmente materializada. Todas as escolhas foram feitas e todos os pormenores estão onde os queria. Parece que o trabalho está feito.
A verdade é que ainda não está. Falta verificar se todas as instruções estão a funcionar, falta ver se as direções estão corretas, se mas medidas se ajustam a vários tamanhos. Falta testar o modelo completo e não só os pontos.
Depois de finalmente acertar todos os detalhes, é tempo de por por escrito todos os passos que seguimos para fazer o vestido, com todo o cuidado para que as instruções sejam claras e objetivas, simples e de fácil compreensão.
E claro que boas fotografias que ilustrem cada passo a seguir são obrigatórias num bom modelo. Facilitam muito a compreensão do que está escrito por palavras, e é como diz o ditado: uma imagem vale mais do que mil palavras!
Depois de tudo escrito é altura de fazer mais vestidos, seguindo agora cada passo das instruções e ver se bate tudo certinho, para que quem o vai fazer depois de ti não seja induzido em erros. A cada vestido que é feito devem ser verificadas as instruções e se necessário corrigidas. No meu caso como há medidas de vários tamanhos envolvidas, é também necessário verificar se as medidas estão corretas para os vários tamanhos.
No meu caso também ajuda muito ter uma família grande, com muitas crianças pequenas, na quase totalidade, meninas!
E assim, quase sem dar por isso, fiz estes 6 vestidos e mais os três da fase de testes! Uma maratona de 9 vestidos!
Já temos o trabalho quase todo feito e o que falta agora? Agora falta encontrar o grafismo que melhor se adapta ao teu estilo e tentar tirar umas boas fotos ao resultado acabado.
Tirar fotografias é talvez um dos passos mais importantes e simultâneamente difíceis.
Há que considerar a luz, o fundo, a composição geral da fotografia e ver qual a forma que melhor resulta na reprodução do que tens nas mãos. Isto porque muitas vezes o que vemos com os nossos olhos fica muito diferente do que vemos espelhado nas fotografias. Por isso convém ensaiar várias hipóteses e ver qual delas resulta melhor.
A seguir é necessário arranjar a fotografia, para que não hajam elementos a causar ruido e o vestido seja o centro das atenções.
Quando estamos a trabalhar roupa ou acessórios, a melhor forma de os fazer sobressair é fotografá-los enquanto estão a ser usados. O que nem sempre é fácil, especialmente se começarem, como eu, a fazer um vestido de verão no fim do inverno. Podem ter de esperar alguns meses até conseguirem uma boa foto ou então improvisam.
No meu caso improvisei porque o tempo não tem estado para vestidos de verão e eu não tenho estado para estar à espera do tempo. Tenta arranjar um bom lugar, ou à falta do lugar ideal, o lugar possível. E o mais difícil? Um modelo pronto a colaborar.
Podes ter que ser um pouco criativa e criar uma distração para facilitar o processo. Na maior parte das vezes, resulta!
Às vezes resulta tão bem que outros modelos vão querem aparecer e ajudar!
Importa ainda dizer que a escolha da mais pequena se deveu exclusivamente ao facto de, no dia das sessão fotográfica, só este vestido da Mafalda estar pronto. A ideia original era poder tirar umas boas fotos das duas a brincar no jardim usando orgulhosa e confortavelmente os seus vestidos. Lição de vida: não se pode ter tudo, por isso é de aproveitar o que se tem.
Dá para ver pelas fotografias que o cenário não é o melhor. Ok elas estão em cima da mesa de jantar, há uma janela com a corda do estore do lado direito, a toalha enrolada, cadeiras e o ar condicionado do lado esquerdo. Feio e mais do que feio faz com que depois de olhares para a minha linda criança, reparas vagamente que ela tem um vestido, mas vais fixar toda a tua atenção no que está a mais à volta.
Partindo do principio que nenhuma de nós é perito em edição de imagem, há que arranjar maneira de eliminar tudo aquilo da foto. Começando por cortar a fotografia até ficar centrada apenas na Teresa e no vestido.
Ainda temos dois problemas para resolver: a toalha na mesa e o ar condicionado lá atrás. Sejamos criativos!
Nada que umas nuvenzinhas não resolvam! Como vês não é assim tão dificil! E a foto deixou de ter ruído, nada de toalhas e ar condicionado a estragar a foto, apenas a doce teresa e o seu vestido! Podes agora usar a foto e compor, com outros elementos o grafismo final que queres apresentar.
Mas o modelo só está completo depois de ter um nome, não só para que te possas orientar no teu trabalho mas para que quem o compra se possa orientar e distinguir este de todos os outros que possa ter.
Este modelo de vestido foi batizado de Aurora. Queres saber porquê? Primeiro porque é o primeiro que escrevo com o objetivo de ser um modelo meu, desenvolvido do principio ao fim por mim, e por ser o primeiro do género deveria ter um nome tivesse também esse significado, e porque não Aurora? Esse momento mágico em que um dia começa ainda cheio de possibilidades! E também porque Aurora era o nome de uma das minhas avós, é um nome com muito significado para mim que me lembra sobretudo o aconchego e o carinho que ela me dava.
Baptizado que está falta só arranjar o grafismo final, fazer uma capa bonita e verificar se está tudo ok no texto e nas imagens.
E é isto! O modelo Aurora está pronto e está disponível na Loja
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